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24/04/2023

Paixão pela profissão e carinho com os passageiros são seus segredos

O motorista Giliard da Conceição Pedroza, 30 anos, atua na linha 679 (Grotão x Méier), da Viação Nossa Senhora de Lourdes, localizada no bairro da Penha, no Rio de Janeiro. Ele virou notícia no jornal O Dia, de 19 de março, por conta de um gesto de empatia com o menino Gabriel Monteiro de Souza Soares, 11 anos, diagnosticado com transtorno do espectro autista. “O Gabriel e a mãe dele, a Roberta, pegam o ônibus comigo todo dia no mesmo horário, indo pra escola. Ele está sempre com os bonecos dos personagens Mário e Sonic, que ele gosta. Eu comecei a perceber que ele estava triste, choroso e até um pouco agitado. Aí perguntei pra Roberta o que estava acontecendo e ela me explicou que ele gosta de sentar no banco atrás de mim e quando o banco não está vago ele fica triste. Então, eu falei com ela que ia guardar o lugar pra ele”, lembra Giliard.

Quando chegou em casa naquele dia, ao terminar sua jornada de trabalho, o motorista não parou de pensar numa solução para o problema do pequeno Gabriel. “Aí me veio a ideia de fazer uma plaquinha. Eu escrevi (numa folha A4): “Faça o dia de uma criança feliz. Favor não sentar”. E isolei aquela parte do primeiro banco. Quando as pessoas viam o papel e o lugar interditado voltavam e não sentavam. Ninguém reclamou”. A notícia ganhou a mídia após a mãe de Gabriel publicar uma foto do menino sorridente sentado no seu lugar favorito e do aviso feito pelo Giliard para reservar o assento. “Ela publicou no Instagram e uma prima dela (eu acho), que trabalha na redação do jornal, ficou emocionada e mostrou lá. Aí resolveram fazer a reportagem”, conta o motorista.

Escolinha de formação

Giliard é aquele tipo de profissional que realmente ama o que faz. “Eu me apaixonei pela profissão”, diz. Ele é motorista de ônibus há seis anos e meio. Antes, foi motorista de utilitário e trabalhou em loja de material de construção. “Quando eu estava para casar, resolvi trocar de área e buscar oportunidade no setor rodoviário, que é um setor onde é difícil ficar desempregado. Você pode até mudar de estado que tem emprego”, afirma.

Durante o processo para conseguir ingressar na profissão, ele passou por decepções e contou com a ajuda de um amigo. “Primeiro, eu fiz o teste em uma outra empresa do Rio, mas não passei. Fique desanimado e tinha até pensado em desistir. Mas, um amigo me indicou para a Nossa Senhora de Lourdes, que foi onde comecei e estou até hoje”, conta. “Mesmo sem ter experiência alguma e mesmo tendo entre os candidatos pessoas com 20, 25 anos de experiência, eu consegui. A empresa tem uma escolinha de formação que treina o profissional, já contratado, de ponta a ponta, durante um mês e pouco. Foi lá que eu aprendi”.

“Pra mim é o serviço ideal”

Casado com a confeiteira e cantora Letícia Souza da Silva Pedroza, há 6 anos, pai da pequena Maria Emanuele, de 4, Giliard revela que tudo no seu trabalho lhe dá prazer. “Eu amo dirigir. E também, como já estou na mesma linha há algum tempo, a gente faz amizade com os passageiros. E meu horário também é muito bom, porque eu posso estar com a minha família no decorrer do dia e à noite. Pra mim é o serviço ideal”.

Morador de Duque de Caxias, ele acorda todo dia antes do galo cantar. “Quando tenho alguma coisa pra fazer em casa antes de ir trabalhar, acordo às 3h. Quando não, acordo às 3h30min. No dia anterior já deixo tudo preparado. Vou pro ponto às 4h e meu ônibus passa às 4h08min; não falha. Minha primeira viagem é às 5h20min, a segunda às 7h20 e a terceira às 10h. Termino por volta das 12h30min, 12h40, no mais tardar 13h. Chego em casa, tomo um banho, almoço e, mais tarde, vou buscar minha filha na escola”.

Momento do embarque

Questionado se considera a profissão difícil e estressante, Giliard é rápido na resposta: “as pessoas falam que não é fácil ser motorista de ônibus, mas eu tiro de boa. Porque quando a gente faz o que gosta nada fica difícil. Pra mim, é a melhor profissão que existe”. Sobre a relação com os passageiros, ele também tira de letra: “sou bastante comunicativo, então, pra mim, é diversão essa relação com os passageiros. Como faço três viagens em horários fixos, a maioria dos passageiros já me conhece; se você está feliz eles sabem, se não está feliz eles também sabem. Tenho vários amigos em todos os horários”.

Segundo Giliard, o momento do embarque é um dos segredos para garantir um bom dia para seus clientes. “Porque a gente consegue fazer o dia de uma pessoa iniciar bem ou fazer o dia dela ser péssimo. Muitas vezes o dia de uma pessoa começa praticamente dentro do ônibus. E, se você é bem receptivo, o tratamento das pessoas também muda com você. Se o passageiro entrar no ônibus e o motorista não falar nada, virar pro lado, ele também não vai falar”, explica.

Além de apaixonado por dirigir, Giliard é também apaixonado pela família. Fala com orgulho da esposa, que é cantora e tem inclusive CD gravado. “Ela canta nas igrejas, nos finais de semana, quando é convidada”, revela. Seu maior sonho é ver a filha feliz e realizada. “Meu sonho principal já foi realizado, que é ter minha esposa e minha filha”. Entre os planos para o futuro está mudar para um bairro mais tranquilo e seguro para viver com a família.

 

 

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