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Cadastre-se20/04/2022
José Leandro Garcia Miranda, 43 anos, motorista da Real Rio, ficou famoso na internet após publicar um vídeo em seu perfil no Tik Tok, contando sobre uma situação constrangedora vivida dentro do ônibus. Uma passageira ouviu quando o fiscal, brincando e de forma carinhosa, chamou Leandro de bebê, como faz com todos os motoristas. A senhora, então, se mostrou “meio indignada” e disse a Leandro que esse tipo de tratamento poderia fazer com que as pessoas pensassem que ele era gay. “Eu sou gay mesmo, falei. E ela questionou: ‘mas como assim, motorista de ônibus?’. E eu disse: ‘minha senhora, basta ter habilitação e dom’. Ela achou estranho. É o preconceito estrutural e a pessoa nem percebe. Na cabeça dela, deve achar que tem uma rótulo de profissão. Explicar isso para a sociedade é complicado”, afirmou o motorista. Leandro lembra que a senhora ficou sem graça com sua resposta, principalmente porque os demais passageiros já o conheciam e riram da situação.
O vídeo que fez para seu perfil no Tik Tok (leandroarara), narrando esse fato com muito bom humor, viralizou. Depois disso, seus seguidores, que eram cerca de 10 pessoas, saltaram para mais de 37 mil. No Instagram (@leandroarara), passaram de cerca de 200 para mais de 22 mil. “Fiz o vídeo sem pretensão, para mandar em um grupo de Whatsapp dos colegas, e resolvi colocar também no Tik Tok. Aí começou a chegar muita mensagem no telefone. Fiquei desesperado, mas depois gostei. Acho que, na verdade, acordei algumas pessoas para esse debate. Na empresa onde trabalho, não sou o único homossexual. Mas, a maioria mantém a cabeça baixa. Depois do vídeo, passei a receber mensagens pedindo opinião. As pessoas criam um estereótipo que não tem nada a ver. Se a pessoa tem o dom e a vontade para ser motorista, a sexualidade é o que menos importa”.
Leandro já trabalhou em sapataria, quiosque, bar, padaria, mercado e como segurança patrimonial. “Fiz de tudo um pouco”, conta. Como rodoviário, atua há cerca de 10 anos. Começou como cobrador e após quatro meses fez a “escolinha”, passando a motorista júnior e, em seguida, chegou a profissional. “Ser rodoviário não é fácil. Há muito desrespeito. As pessoas pensam que somos a escória do mundo, aqueles que não tiveram oportunidade, que não tiveram outra escolha. Há um preconceito com a categoria. Aqui na empresa, a gente tem até professores que trabalham como motorista e dão aula na parte da tarde. Eu tenho muito respeito pela minha profissão. Se escolhi fazer isso, tenho que fazer o melhor”.
Em seus perfis no Instagram e no Tik Tok, Leandro fala sobre sexualidade, mas também sobre outros temas importantes, como racismo, defesa da mulher, religião, política, a situação do pobre, autoestima. “Surge um assunto e a gente bota pra cima”, diz. A maioria dos seus seguidores, cerca de 70%, é de mulheres. “É um público mais maduro, entre 34 e 48 anos. Tem bastante rodoviário também”. E é o próprio Leandro quem grava e edita os vídeos. “Tem dado resultado, as pessoas interagem e tem aparecido parcerias”, comemora.
O motorista, que se diz gaiato e debochado, dedica seus horários de folga à religião. “Sou candomblecista, babalorixá (pai de santo). Sou apaixonado pelo candomblé. E, nas minhas redes sociais, procuro explicar sobre a minha religião. As pessoas demonizam muito e aí explico que não temos satanás, demônio. Não existe isso para o candomblecista. Se trata de ancestralidade”, fala. Seu maior sonho, inclusive, é construir sua casa de candomblé, em Itaguaí, onde mora com os pais, “para cuidar dos meus”, afirma. A obra já começou, mas, segundo Leandro, ainda falta muito a ser feito e deve demorar alguns anos para concluir, pois o investimento é alto. “Ainda que eu não consiga concluir a obra nesta vida, tenho meus ‘filhos’ que vão continuar. A casa vai seguir. Ainda que o meu corpo se despeça desse mundo, eles continuarão e farão”.
Outros sonhos que nutre é fazer uma faculdade, ser feliz e ter saúde. Sua maior qualidade é a perseverança. E um conselho que dá para os colegas rodoviários é “voltar para casa satisfeito, ter prazer no que faz, se respeitar, não baixar a cabeça e respeitar o próximo, pois a gente lida com muitos clientes dia e noite. O respeito é fundamental dentro da nossa profissão. Quando todos tiverem consciência de que devem se respeitar mutuamente, a gente vai ver menos agressões, menos brigas. Tem que ter consciência de que você está transportando vidas. Então, se a gente respeitar as vidas, a começar pela nossa, já é principal”.
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