30/10/2024
Márcio Marcolino da Silva, 47 anos, é rodoviário desde 2016. Começou como manobrista, na Viação Pendotiba, de Niterói, sendo promovido a motorista com apenas dois meses de empresa, quando passou a transportar os passageiros da linha municipal 55 (Várzea das Moças – Piratininga). No ano seguinte, surgiu a oportunidade de ingressar na Coesa Transportes, mais perto de sua casa, em Itaúna, São Gonçalo (RJ), e Márcio abraçou a chance, mesmo tendo que voltar para a manobra, já que a operadora exigia dois anos de experiência como motorista. “Quando o instrutor me falou isso, eu disse que não tinha problema, que começaria tudo de novo. Demorou mais um ano para eu voltar para a rua”, conta. Atualmente, atua na linha intermunicipal São Gonçalo – Castelo, dirigindo ônibus modelo rodoviário, de uma porta, conhecido como Tarifa. Apesar de ter iniciado no setor de transporte por ônibus aos 39 anos, sua vida na labuta iniciou muito cedo, ainda aos 13 anos, quando passou a trabalhar com um tio, que possuía uma kombi de frete. “Desde pequeno, quando comecei a me entender por gente, eu tinha esse tio como foco, porque ele era motorista de caminhão. Aí ele comprou uma Kombi e começou a trabalhar por conta própria e sempre me chamava. Quando eu saía da escola, pegava o ônibus e ia me encontrar com ele. Foi ele quem me ensinou a dirigir”. Com o passar do tempo, o pai de Márcio, no entanto, o aconselhou a buscar um emprego com carteira assinada. Ele conseguiu uma colocação em uma farmácia de Niterói, como entregador de remédio, serviço que fazia a pé ou de bicicleta.
Em 2001, aos 24 anos, Márcio finalmente tirou sua carteira de habilitação. Nessa época, ele trabalhava como atendente numa padaria. “Como minha patroa sabia que eu dirigia, passei a fazer entrega e buscar mercadorias também”. A experiência ao volante foi determinante para que Márcio conseguisse seu primeiro emprego oficial como motorista, na empresa ferramentas, onde o irmão trabalhava como vendedor. “Comecei numa Fiorino. Fazia entregas no trajeto Rio – Macaé – Campos. Fiquei seis anos e passei a fazer o estado do Rio inteiro. Gostava muito, porque me sentia livre, trabalhava sozinho. Foi ali que pensei: não vou largar esse negócio de motorista nunca”. O rodoviário lembra que até mesmo sua timidez melhorou quando encontrou a profissão da sua vida. “Eu chegava para fazer entrega e precisava conversar, explicar o que estava entregando. Aí, fui me soltando”. Foram seis anos vivendo a primeira experiência como profissional do volante para, em seguida, subir pela primeira vez na boleia de um caminhão, para trabalhar com reboque, numa seguradora de veículos. “Quando a empresa fechou, comecei a fazer freelancer como motorista no caminhão de um amigo meu, fazendo entrega de produtos de PVC, canos, esses negócios, até que consegui um emprego como motorista operador de caminhão cesto aéreo. Depois, fui promovido a motorista eletricista, após fazer um curso de seis meses pela própria empresa. Fiquei oito anos lá e, então, finalmente, entrei para o ônibus”, conta.
Ele conta que se encontrou nessa profissão. “Foi amor à primeira vista. Muita gente fala que eu era maluco de querer trabalhar em ônibus porque era muita perturbação. Mas, eu vi que não era nada daquilo e que, sendo quem você é, passando sua simpatia para as pessoas, você recebe simpatia de volta. Tendo empatia com as pessoas, também recebe empatia. Então, é assim que eu trabalho todos os dias. Quando eu entro no ônibus, eu desfoco dos meus problemas. Aquilo ali, para mim, é o melhor lugar do mundo, onde eu tenho a chance de conhecer pessoas, de realizar sonhos de pessoas. Muitas dessas pessoas devem entrar no ônibus para ir em busca de um emprego, para ir viajar, para conhecer outros lugares. Para mim é uma alegria trabalhar como motorista, poder transportar essas pessoas e seus sonhos”. Márcio trabalha como TU, que é aquele motorista que trabalha de segunda a sexta-feira, primeiro no turno da manhã, com um período de descanso em seguida, e retornando ao trabalho no final do dia, encerrando o expediente por volta das 21h. Nos finais de semana, eventualmente, faz viagens de turismo para destinos no estado do Rio, com Nova Friburgo, Barra do Piraí, Barra Mansa, entre outros. “Eu trabalho por amor, não é trabalhar por trabalhar. Ser rodoviário para mim é uma alegria muito grande, é um amor que não tenho nem palavras”.
A relação com os passageiros também é de paz. “Tem alguns que levam até lanche”, revela. E conta o caso de uma antiga cliente: “quando eu trabalhei numa linha urbana, tinha uma passageira, a dona Fátima, que tinha problema nas pernas – ela teve um câncer no joelho, e ela tinha muita dificuldade para subir no ônibus. Aí ela falava que antes de eu entrar na linha, tinha uns motoristas que paravam a quase um metro fora da calçada e era um sacrifício para ela subir. Desde a primeira vez que eu a vi no ponto, encostei no meio-fio e disse pra ela que tinha todo o tempo do mundo para subir e que se precisasse eu desceria o elevador. Aí, ela passou a só viajar comigo e todo dia me levava um biscoito”. Casado há 10 anos com a manicure Ana Paula, Márcio tem dois filhos – Richard, 26 anos, de seu primeiro relacionamento, e Murilo, oito anos, que parece querer seguir os passos do pai. “Quando ele está comigo no ônibus, quer sentar no meu banco e pede para dirigir. Quando paro perto da minha casa para pegar um lanche com minha esposa, ele sai correndo para entrar no ônibus”. Se depender de Márcio, o filho também será um ótimo motorista. Dicas e conselhos não irão faltar. “Para ser um profissional de sucesso, bem-quisto, na minha opinião, você tem que trabalhar com amor, com excelência. É preciso entender que essa profissão não é algo tão simples assim, porque você transporta vidas humanas e lida com pessoas no dia a dia. Além disso, é preciso ter muita atenção, porque você trabalha com trânsito e tem que tentar evitar o estresse”, diz. “Eu, quando sento no banco do motorista parece que sentei na poltrona da paz”, completa.
Caramba…passou um filme agora e acho que caiu um cisco no meu olho 🥹 essa história de vida dá um livro com páginas escritas a ouro, parabéns por ser quem és e pelo homem que se tornou,diga-se de passagem eu carreguei no colo né?
Que Deus continue te abençoando na sua jornada 🙏 🙏
Obrigado tia🤩
Linda história! Tenho certeza do excelente profissional que és. Parabéns pela dedicação e empatia com os passageiros.
🥰