Para participar das promoções, concursos e receber as nossas news
Cadastre-se20/12/2024
No ano de 2015, a Indo & Vindo, revista então publicada pela Semove para os trabalhadores rodoviários do estado do Rio de Janeiro (editada entre 2011 e 2016), trazia matéria sobre um rodoviário que havia lançado seu primeiro livro durante a 17ª edição da Bienal do Livro do Rio. Ezequias Nunes da Silva, que na época já era despachante da Expresso São Francisco, empresa de Nilópolis (RJ), fez sua tarde de autógrafos na Bienal, no dia 8 de setembro daquele ano. Sua obra – “O Leão Ferido – um manual de sobrevivência na selva de pedra” – é um guia para os rodoviários, contendo dicas de comportamento para lidar com os clientes, com o estresse no trânsito, com situações de conflito e para o crescimento profissional e pessoal. O título “O Leão Ferido” é um jogo de palavras com o apelido de “leão”, pelo qual o rodoviário é conhecido no próprio meio.
Nove anos depois, Ezequias lançou um novo livro – “Rodoviário Nota 10” –, mais um manual voltado para os rodoviários. Desta vez, a obra trata sobre autodesenvolvimento e dedica cada capítulo a uma qualidade considerada pelo autor indispensável para o crescimento dos profissionais da categoria. Ao se deparar com esta informação, a equipe do Portal do Rodoviário, a mesma que integrava a revista Indo & Vindo, produziu matéria sobre o novo feito do rodoviário e, ao mesmo tempo, fez com ele uma entrevista para a seção Perfil, resgatando sua história de vida e profissional. Vale a pena dedicar alguns minutos para esta leitura sobre o despachante, escritor e pastor Ezequias Nunes da Silva.
Nascido em 1970, em Nova Iguaçu (RJ), Ezequias começou sua jornada no mercado de trabalho já como rodoviário, logo que saiu do Exército, em 1990, na Viação Nossa Senhora da Penha, de Mesquita (RJ). Foram quatro anos dedicados à empresa como auxiliar de lubrificação, no turno da noite. Depois, entre 1995 e 1999, após passar em concurso da Engetron (Empresa Gerencial de Projetos Navais), trabalhou como servente industrial no Arsenal da Marinha, na Ilha das Cobras, retornando ao setor rodoviário ao término dessa experiência. A extinta empresa Turismo Transmil, que encerrou suas atividades em 2014, foi sua casa até o final de 2013 e foi lá que o rodoviário atuou pela primeira vez no setor operacional, iniciando como cobrador, passando a fiscal e depois despachante, a partir de 2003. A Expresso São Francisco, onde trabalha atualmente, recebeu o profissional em janeiro de 2014. “Em janeiro de 2025, vou completar 11 anos de empresa”, diz orgulhoso.
Ezequias está casado há 25 anos com a professora Luciana Teixeira Rois da Silva, com quem tem um filho – João Lucas Rois da Silva, 24 anos -, que seguiu os passos do pai, tornando-se rodoviário. “Ele começou como jovem aprendiz na mesma empresa em que eu trabalho e agora está no GPS (centro de controle de operações que monitora os ônibus nas ruas em tempo real)”, conta Ezequias. Formado em Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos, o despachante e escritor atua também como pastor em uma igreja evangélica de Belford Roxo (RJ). É uma rotina puxada, que exige muita disciplina e dedicação, mas que gera também prazer e realização para Ezequias.
“Trabalho no turno da noite, entre 21h e 4h. Chego em casa por volta de 4h40 e durmo até no máximo 9h. Depois, por volta das 17h, tiro mais uma soneca para então me preparar para o trabalho novamente. Ou seja, fico praticamente livre durante o dia para me dedicar a outras atividades, inclusive escrever… Os cultos acontecem três vezes por semana (quarta, sexta e domingo), sendo que no domingo são duas vezes. Então, algunsdias, devido a minha escala de trabalho, preciso contar com auxiliares que me ajudam na direção do trabalho na igreja”, revela. E explica: “por exemplo, no domingo, os cultos são durante o dia e aí eu posso estar presente. Durante a semana, quando acontecem às 20h eu também consigo estar à frente e ir direto para o trabalho. Mas, quando eles são feitos mais tarde, preciso contar com auxiliares que me substituem”.
Quando resolveu escrever seu primeiro livro, Ezequias tinha em mente contribuir para a evolução dos colegas da categoria. “A ideia era levar ao rodoviário o principal de todos os mandamentos, que é o amor. Ele não deve retribuir os maus-tratos, o ódio ou o rancor na mesma moeda”, afirmou na ocasião do lançamento. Ele contou também que foi um curso, realizado em 2009, de Instrutor de Treinamento e Desenvolvimento Humano, que o motivou e foi determinante para a elaboração da obra “O Leão Ferido – um manual de sobrevivência na selva de pedra”. “O curso foi um divisor de águas porque trabalhou muito a questão da empatia, você se colocar no lugar do outro”, contou na época. Além disso, ele usou como fonte a pesquisa “Perfil e Expectativa do Motorista 2014, feita pela Semove”.
Agora, em sua segunda obra – “Rodoviário Nota 10” – dedicada à classe rodoviária (ele tem outros três livros de cunho religioso), Ezequias desafia os colegas ao autoconhecimento. “O bacana do livro é que eu proponho, para cada uma das qualidades exploradas nos capítulos, que o profissional se autoavalie. Então, eu pergunto, por exemplo: ‘qual é a nota que você dá para você mesmo sobre o seu otimismo, quando você vai pegar no trabalho? Você começa de uma forma otimista ou pessimista?’. Aí ele dá nota para ele mesmo, de 0 a 10. O livro faz isso com todas as qualidades listadas. No final, o próprio profissional vai saber se ele é ou não nota 10 e o que precisa fazer para melhorar”, explica. As qualidades foram eleitas a partir das letras que formam a palavra rodoviário.
Para Ezequias, o principal segredo para ser um bom profissional é estar ciente da sua missão. “O motorista, por exemplo, não é um simples motorista, ele é um condutor de vidas, é a pessoa que está transportando vidas para os seus respectivos compromissos, para as suas respectivas atividades. Então, quando o profissional sabe da missão dele eu creio que ele faz com maestria, ele faz com excelência, ele não está fazendo por fazer”, afirma.
Ao escrever esses dois livros voltados para os rodoviários, o autor se inspirou na obra “Inteligência Emocional”, do jornalista, escritor e psicólogo estadunidense Daniel Goleman e sobre a experiência que Goleman viveu em um ônibus de Nova York. “Ele contou que o motorista do ônibus recebia os passageiros sempre com muita alegria e simpatia e os passageiros não davam a mínima atenção para ele. Mas, isso não tirava a alegria e o otimismo do motorista. No final, os passageiros não conseguiram contagiar o motorista, foi o motorista quem contagiou todos os passageiros de forma positiva. Quando os passageiros desceram do ônibus, já tinham um sorriso, um aceno de mão, uma outra perspectiva de vida”, diz Ezequias. “Foi a partir dali que Daniel Goleman começou a elaborar sua teoria da inteligência emocional”, informa.
Os estudos, pesquisas e o poder de observação foram fundamentais para que Ezequias conseguisse reunir em suas obras dicas preciosas que podem contribuir para o desenvolvimento de seus colegas de trabalho. “Nos meus livros, eu tento justamente passar para o rodoviário que nada pode tirar o seu bom humor, o seu otimismo, a sua vontade de fazer o melhor. Nós sabemos que passamos por situações dificílimas. O que os nossos colegas enfrentam realmente não é fácil, não. Mas, a gente não pode perder o autocontrole e a perspectiva de que tudo vai dar certo”, finaliza.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Nota da redação: Daniel Goleman é autor de Inteligência Emocional, considerado um dos 25 livros de gestão e negócios mais influentes pela revista Time. Ele descreve a inteligência emocional como a capacidade de uma pessoa de gerenciar seus sentimentos, expressando-os de maneira apropriada e eficaz. De acordo com o psicólogo, os cinco pilares da inteligência emocional, importantes para o sucesso pessoal e profissional, são:
Deixe um comentário