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30/01/2025

Um motorista com olhar especial para as pessoas e a causa animal

André Ferreira da Costa, 48 anos, rodoviário da Turp Transporte, de Petrópolis, tem uma longa história como motorista e outra longa história ligada à causa animal. Este mês de janeiro, viralizou na internet sua iniciativa para salvar a vida da cadela Laica, abandonada e com um tumor viral na vulva, e seu filhote, Fiapo, de cinco meses.

No dia 15 de janeiro, com apenas um cartaz nas mãos, André, de folga, vestiu seu uniforme de motorista para chamar mais a atenção das pessoas e se dirigiu a uma das áreas mais movimentadas de Bonsucesso, em Petrópolis, fazendo um apelo: “por favor, ajude esta cachorrinha, que está com um tumor muito grande. Quem puder compartilhar, agradeço”. Várias fotos e vídeos feitas por quem passava pelo local foram publicadas nas redes sociais e o assunto acabou viralizando. Em pouco tempo, uma clínica veterinária se prontificou a cuidar do caso, de forma gratuita. “Foram realizados todos os exames… Ela ficou internada, sendo preparada para o tratamento de quimioterapia. O filhotinho está bem e recebeu as vacinas adequadas para sua idade”, contou André. Ambos foram colocados para adoção.

O Portal do Rodoviário soube dessa história e resolveu fazer uma matéria contando mais sobre esse profissional, cujo amor pelos animais contagia família, amigos, clientes e agora também boa parte da população petropolitana.

Motorista desde sempre

André sempre foi motorista, desde que começou a trabalhar, aos 18 anos. “Minha mãe me deu de presente a carteira de habilitação, assim que fiz 18, e meu primeiro emprego foi como motorista. Eu fazia entrega de medicamentos com um caminhão pequeno e às vezes com uma Fiorino. Fiquei lá uns seis anos mais ou menos”, conta. O ônibus entrou em sua vida aos 24 anos, quando foi aprovado para trabalhar na extinta empresa Rubanil, localizada na Pavuna, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Nascido e criado em Petrópolis, André se deslocava todos os dias da cidade serrana em direção à capital fluminense. “Levava em média duas a três horas para ir e voltar”, lembra.

Um ano após sua primeira experiência como motorista de ônibus, André conseguiu ser aprovado para atuar em uma empresa de linhas municipais da sua cidade, a também extinta Viação Petrópolis, onde trabalhou por cerca de nove anos, até se transferir para o transporte intermunicipal e em seguida para o interestadual – primeiro na Única e depois na antiga São Geraldo – e mais tarde se dedicando ao transporte de turismo. Há pouco mais de 10 anos, em 2014, o motorista iniciou sua jornada na Turp Transporte, retornando ao transporte municipal de Petrópolis. Atualmente trabalha na linha 613 (Terminal Corrêas x Bairro da Glória). “Eu pego o ônibus no Terminal por volta das 14h20 e entrego na garagem na faixa das 23h40”, conta.

Militante pela causa animal

Casado com Sandra dos Santos Silva, 52 anos, que trabalha como secretária em um consultório médico, é pai da Letícia, 26, estudante de veterinária. Certamente, a filha herdou dele esse apreço pelos animais. A família tem uma trupe com nove cachorros, criados no quintal de casa, sendo cinco deles fruto de resgate nas ruas de Petrópolis. O coração de André sempre balançou pelos bichos abandonados. Mas, a virada de chave para iniciar a militância na causa animal se deu em 2019. “Tudo começou mesmo quando uma cachorra minha, a Tessy, foi assassinada por uma antiga vizinha. Foi um fato que ficou até famoso na cidade. A partir dali, eu passei a perceber mais os animais de rua, muitos com problemas…”, explica.

O caso da Tessy está na justiça até hoje, ainda sem solução. Sua morte, como contou o motorista, serviu como inspiração. Hoje em dia, por onde passa, principalmente durante o trajeto da linha 613, está sempre atento aos animais que precisam de ajuda. “Eu dou medicamento, ando sempre com uma garrafa de água para colocar pra eles, quando dá para parar sem atrapalhar a viagem. Às vezes é um cachorro de raça, perdido, e eu informo no grupo de whatsapp que participo. Outras vezes, quando não consigo parar para ajudar, coloco no grupo o local onde algum cachorro está precisando de ajuda, alimento ou água, e peço a alguém para ir até lá cuidar”, explica.

Após o episódio com a cachorra Laica, vários grupos de whatsapp com pessoas dedicadas à causa animal incluíram o André para participar. No dia em que foi pra rua com um cartaz pedir ajuda, recebeu cerca de 500 mensagens. Ele também mantém e gerencia um grupo formado pelos clientes da sua linha. “Eu tento influenciar eles para ajudarem os animais também. Agora, depois desse fato com a cadelinha, muitos ficaram mais atentos e estão ajudando. O pessoal ficou mais ligado”, diz. A notícia ganhou tanta proporção que algumas crianças batizaram um porquinho da Índia com o nome de André, em homenagem ao motorista.

“Tudo é uma troca”

André nutre o sonho de ter um local, “tipo uma fazenda”, para abrigar animais de rua resgatados. “Queria ganhar na loteria só para poder fazer isso”, diz. Ele defende que deveria haver um castramóvel na cidade de Petrópolis, que funcionasse permanentemente para que no futuro a população de animais abandonados nas ruas possa ser reduzida drasticamente. Também propõe uma fiscalização mais eficaz por parte da prefeitura, para evitar que tantos bichos sofram de maus-tratos e abandono.

Seu olhar atento aos animais não é diferente com as pessoas. Quando atuou em outra linha que atendia uma comunidade muito carente na periferia de Petrópolis, André fez o primeiro grupo de Whatsapp com os clientes com o objetivo de ajudá-los informando se o ônibus estava chegando e também de motivar a interação entre os passageiros. “É um local onde a população tem muitos sonhos e precisa de atenção”, ressalta. André acredita que para ser um bom motorista de ônibus é fundamental entender as necessidades das pessoas, ter empatia… Eu procuro muito entender cada passageiro, interagir, manter um bom relacionamento… Não é só sentar ao volante e dirigir… Tudo é uma troca”, defende.

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